AS ÁGUAS DE MINHA SAUDADE
Uma velha trempe de arame
Pairando sobre o braseiro
Uma fumaça de palheiro
Se espalhando no galpão...
Um João de barro no oitão
Prenunciando primavera
Um silêncio de tapera
De apertar o coração.
Uma cambona chiando
Na esperança de outro mate
Um ovelheiro que late
Lá p’ras os lados da mangueira
Um rangido de porteira
De alguém que chega ou se vai
E um fim de tarde que cai
Na mansidão da fronteira.
São coisas simples que ficam
Registradas nas retinas
Imagens tão pequeninas
Que os olhos guardam pra si...
E lá do fundo da alma
Espiam de vez em quando
Quando me pego mateando
A lembrar de onde vivi.
Um tilintar de chilenas
Anunciando o fim da lida
A quietude ganha vida
O galpão se torna casa...
E quando a noite abrir asas
Sobre estes filhos do campo
As vozes se tornam cantos
Na claridade das brasas.
Uma cantiga campeira
Um dedilhar de violão
Uma roda de chimarrão
E um “- buenas, chegue p’ra perto”
Um fragmento de verso
E um poncho carnal vermelho
Secando junto ao braseiro
As deságuas da saudade.
Saudade que vive em mim
Depois que vim p’ra cidade
Troquei minha liberdade
Pelas grades e concretos...
E os sonhos, hoje dispersos
Não são mais os que eu sonhava
A riqueza que eu buscava
Lá fora “tava” tão perto.
( Do livro De tempo e saudade)
Um comentário:
Um belo poema!
Sou editor do FANZINE EPISÓDIO CULTURAL, um publicação sem fins lucrativos ( 2 mil exemplares) distribuídos gratuitamente.
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