A cultura gaúcha não conhece fronteiras, não veste cores partidárias, nem se resume a sotaques ou formas de linguagem regionais. A cultura gaúcha é muito mais do que isto, é a própria identidade de pessoas, nascidas no Rio Grande ou não, que comungam da mesma essência, que bebem do mesmo mate, que ouvem as mesmas músicas e dançam as mesmas danças, não importando o local onde se encontram. Gaúchos, no sentido mais terrunho desta palavra, são os homens, mulheres e crianças que desde cedo aprendem a amar uma tradição que receberam dos seus ancestrais, ou que aprenderam a admirar e defender como sinônimo de honra, respeito pelas origens e pelo chão onde vivem. Desta forma, em plena Selva Amazônica, nos confins de um Brasil que poucos conhecem, esquecido pelas autoridades e pela maioria dos brasileiros, “gaúchos” dos quatro cantos deste imenso país, representados por militares, familiares e simpatizantes do movimento tradicionalista que guarnecem as fronteiras com a Colômbia e a Venezuela, no distante município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, deslocaram-se até o local denominado Marco Zero, onde passa a linha imaginária do Equador, na BR 307, que liga este município à Cucuí.
Neste local, onde começa o Brasil, foi realizado no dia 12 de setembro de 2010, a abertura da Semana Farroupilha, em homenagem aos 175 anos da Revolução do mesmo nome, ocorrida no Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1835.
Sob um sol escaldante de 40 graus, riograndenses, paranaenses, catarinenses, paulistas, cariocas, mineiros, amazonenses, uruguaios e nordestinos beberam do mesmo mate, desfraldaram a mesma bandeira e cantaram o mesmo Hino, celebrando a memória de uma revolução que era de todos, pois representava os anseios de liberdade de um povo que se renova a cada dia e que pulsa no peito de cada um. Na ocasião, foi realizado o acendimento da Chama Crioula pelo General de Brigada José Luiz Jaborandy Junior, Comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva e Guarnição Militar e pelo Sargento Martelli (Santa Maria – RS), tradicionalista e idealizador deste evento, sendo ainda lido um poema composto em homenagem a este evento histórico.
Após ser cantado o Hino Riograndense aos acordes das Guitarras do gaúcho Ivonir Leher (São Gabriel -RS) e do paranaense Ricardo Caldas (Pinhão -PR) e entoado pelas vozes de todos os presentes, houve uma carreata pelas ruas da cidade São Gabriel da Cachoeira, conduzindo a chama crioula, até o Clube de Subtenentes e Sargentos do Alto Rio Negro (GRESSARNE), onde o presidente Fabiani Beulch (São Borja – RS) ofereceu um suculento churrasco à todos os presentes e a festa continuou madrugada a dentro, onde a cantoria contraponteou com canto dos grilos nos confins da Amazônia Ocidental.
Durante a toda a semana foram realizadas diversas atividades como; palestras, exibição de vídeos, degustação da culinária campeira, apresentações artísticas e danças tradicionais e folclóricas pelos filhos dos militares que prestam serviço e garantem a soberania nacional na fronteira do Brasil, sem esquecer as suas origens.
Poema do Marco Zero, composto pelo militar e poeta gaúcho Ivonir Gonçalves Leher.
Tantos anos se passaram
Da Epopéia Farrapa
Onde esta gente guapa
Fez surgir a nossa história...
Alicerçada nas glórias
De Bento e de Souza Netto
Que lá de cima, por certo
Abençoam este momento
E há entre nós, tantos Bentos
Que honram sua memória.
Rio Grande, terra lendária
De heróis desconhecidos
Rio Grande dos esquecidos
Do Brasil, uma identidade...
Rio Grande, Pátria e saudade
Que carregamos no peito
E exigimos respeito
Por tudo que já fizemos
Por esta Pátria, morremos
Em nome da liberdade.
E hoje, estamos aqui
Onde começa o Brasil
Nesta terra varonil
Bem na Linha do Equador...
Marco Zero, sol e suor
Desfraldando uma bandeira
Na Amazônia Brasileira
O Brasil é mais gaúcho
E “vamo agüentá o repuxo”
Pra mostrar nosso valor.
Marco Zero, linha do Equador, São Gabriel da Cachoeira – AM, 12 de setembro de 2010.